quarta-feira, 29 de abril de 2009

BREVE HISTÓRIA DO POVO JUDEU - Segunda parte


Fonte: Boa parte de Isaac S. Algazi e Tradução de Ruth Iusim (Visão Judaica)

Durante anos luta seguiu e por muitos meses foram sitiados Jerusalém e seu santuário; e no ano 70 (e.C.) o imperador Tito conseguiu entrar na cidade: incendiou o templo, assassinou e vendeu a maior parte de seus habitantes, começando assim para o judeu o exílio que durou 2 mil anos.
Parte dos judeus imigrou para as regiões asiáticas; outros fixaram sua residência no ocidente, enquanto os judeus de Alexandria, os já helenizados, continuaram vivendo no mesmo ambiente e desenvolvendo sua cultura à sua maneira.
Enquanto os exilados procuravam salvação em diversas terras e se preocupavam com sua vida e seu trabalho, na Judéia, cognominada de Palestina pelos romanos, continuava-se vivendo sob certa autonomia. Na escola de Iavne, onde o rabi Johanan ben Zacai havia salvo o judaísmo, formou-se uma academia e um tribunal supremo, cujo chefe chamava-se Nassí (príncipe), nos quais foram se desenvolvendo as idéias para a formação da Mishná primeiro, e do Talmude depois. Enquanto os sábios trabalhavam sem descanso para eternizar o judaísmo, os homens que em sua vida diária mal suportavam o jugo romano, encontraram um chefe e se rebelaram. Encabeçados por Bar-Kochba e apoiados pelo sábio Aquiva, os judeus entregaram-se à luta. Lutaram com todo o vigor, com toda a força que imprime nos músculos a visão da liberdade que assoma nas consciências, mas a rebelião foi sufocada com grande derrame de sangue, morrendo ambos os chefes como mártires de uma idéia que não puderam chegar a converter em realidade.
Depois desta derrota adormeceu por séculos o alento patriótico do povo judeu. Cada um reclinou a cabeça e suportou sua desgraça limitando seu pensamento à vida diária, deixando a seus rabinos e sábios o cuidado da Torá e do judaísmo. Enquanto a falta de esperança, pior que o desespero, apoderava-se de cada indivíduo, nas escolas da Palestina e da Babilônia os doutos, surdos aos apelos da vida, continuavam compilando os livros que representariam no correr dos séculos a salvação do judaísmo e do judeu. A Mishná, obra dos tanaístas, veio à luz no século II, enquanto os amoraítas trabalhavam na compilação do Talmude.
Foi sobretudo na Babilônia que os estudos alcançaram um desenvolvimento excepcional. Com efeito, na Mesopotâmia o número de judeus ia aumentando consideravelmente. As comunidades mais importantes, como as de Mahuza, Nehardea e Pumbedita, eram sede de distintas academias.
Nomeou-se um exilarca de procedência davídica como chefe do judaísmo babilônico. Mais tarde, a autoridade do exilarca foi diminuindo e os verdadeiros guias foram os gaons, chefes das distintas academias. Desta maneira a vida dos judeus transcorria num feliz desterro, dedicada ao desenvolvimento cultural, filosófico e moral.
Na diáspora romana, porém, as coisas não sucediam assim. No ano 350, ao subir Constantino ao trono, começou contra o povo judeu uma política de coação, atenuada no entanto nas regiões onde os judeus sujeitaram-se ao islamismo, pagando pesados tributos para poder desta forma dedicar-se tranqüilamente ao comércio, como em Bagdá, Cairo e toda a Espanha muçulmana.
Assim, no século IX houve comunidades judias no Cairo, Fez e Marrocos, enquanto na Babilônia, uma vez conquistada a Pérsia pelos muçulmanos, vinha ocorrendo o mesmo fenômeno. O povo judeu, portanto, pôde continuar seu desenvolvimento cultural somente nos países muçulmanos, onde tinha uma vida mais tranqüila, igual aos outros povos, e dedicar-se a qualquer tarefa ou ocupação.
Em troca, no mundo cristão, à medida que o cristianismo ia ganhando terreno no monopólio das fontes de riqueza dos países do Ocidente, ia a influência judaica pouco a pouco voltando ao estado de prostração em que esteve mergulhada nos últimos tempos do império romano. Os judeus não podiam ter autoridade alguma sobre os cristãos; eram afastados dos cargos públicos e eram privados dos direitos de cidadania quando implicava em algum cargo de autoridade, como ter escravos, servos e até criados domésticos.
Os cristãos deviam evitar todo contato social com os judeus, os quais deveriam ter uma marca ou distintivo em suas roupas ou em alguma parte visível do corpo.
Desta maneira, os antigos hebreus e agora os judeus que eram um povo essencialmente agrícola, sem aptidão especial e sem gosto pelo comércio, viram-se obrigados, na sua qualidade de estrangeiros numa população urbana e mercantil, a mudar suas características de vida. A partir da época feudal, especializaram-se cada vez mais no comércio e na medicina, que podiam exercer pois lhes eram vedadas todas as outras profissões. O judeu, por causa das leis canônicas, chegou a ser banqueiro por excelência, e "judeu" e "banqueiro" tornaram-se vocábulos sinônimos. Desta maneira foram criando tanto inimigos como credores e, ao despertar o espírito comercial quando a submissão às leis canônicas foi decaindo ante o imperativo da luta pela existência, o capitalista cristão perseguiu no judeu o competidor e detentor de um monopólio produtivo.
Na Espanha, onde os judeus já viviam desde o século III (e.C.), a população judaica aumentou notavelmente depois da batalha de Guadelete (711) como conseqüência da invasão dos árabes, provavelmente por ter ficado ali grande número de judeus que tinham vindo com os muçulmanos. A situação dos judeus melhorou, prosperaram e houve reis que tiveram médicos, astrônomos e músicos judeus. Chegaram a possuir terras, indústrias, faziam serviço militar sem qualquer restrição, iguais aos outros cidadãos e em certas jurisdições estavam no mesmo pé de igualdade com os fidalgos. Neste ambiente, os judeus começaram a desenvolver na Espanha uma atividade cultural que é tida como a "Idade de Ouro" da história judaica.
Durante três séculos o judaísmo floresceu em Granada, Córdoba, Sevilha, Saragosa, Barcelona, etc., dedicando-se seus integrantes a produzir obras literárias, dando início aos comentários sobre o Talmude, que tornaram mais fácil a procura de qualquer dado. Com a ascensão da ciência árabe, muitos judeus que também escreviam neste idioma começaram a ocupar-se da filosofia. A cultura hebraica deu seus melhores frutos naquela época. É desse período o sábio e venerado Maimônides. Os rabinos não tratavam apenas de obras religiosas, morais e filosóficas e sim de todos os temas e argumentos. Assim guiado, o judeu ampliou sua missão; o homem da sinagoga passou a ser homem do mundo, participava da vida pública, ajudava os monarcas árabes em suas empresas e em sua política e mais tarde auxiliou também os ingratos soberanos da Espanha a aumentar sua potência e a conquistar um império. A par disto, homens de ciência e audazes navegantes judeus colaboraram nas façanhas que levaram os portugueses para além do Cabo da Boa Esperança, até as Índias. Não obstante, os judeus não esqueceram sua antiga pátria; com exceção de alguns que voltavam para a Terra de Israel para ali terminar seus dias, os outros criaram raízes na Espanha, vivendo ali como em sua antiga terra. De Sefarad, nome hebreu da Espanha, derivou o nome sefaradim, como se fizeram chamar os judeus, pensando com isto conquistar sua tranqüilidade e seu lugar no mundo.
Mas não foi assim. Repentinamente estalou um movimento anti-judeu e, numa quarta-feira de cinzas de março de 1391, uma multidão turbulenta irrompeu no bairro judeu da cidade de Sevilha. No dia 9 de junho, uma orgia de matança apoderou-se da cidade. Dali o tumulto popular propagou-se a Córdoba, onde morreram dois mil hebreus. Continuou avançando até Toledo, onde o populacho, em sinal de fé cristã, marcou para a matança de judeus o dia 17 de Tamuz (20 de junho), em cuja triste e vergonhosa jornada correram torrentes de sangue israelita pelas ruas da cidade imperial, sem perdão de idade ou sexo. Sucederam terríveis matanças em cerca de setenta comarcas. Poucos dias depois do massacre de Toledo, o povo de Valência desafogava seu fanatismo contra os judeus, esfaqueando os seus cinco mil e contagiando com seu furor as ilhas Baleares, em cuja capital, Maiorca, cometeu-se toda sorte de atropelos, prelúdio da trágica matança levada a cabo em Barcelona no dia 2 de agosto de 1391, na qual pereceram onze mil judeus.
A partir desta época, o judaísmo espanhol, cortado ao meio, arrastou uma vida apática até que recebeu o golpe mortal com a Inquisição, fundada na Espanha em 1480. No dia da conquista de Granada, assegurada graças ao apoio moral e material dos judeus e que coroava a unidade espanhola e o triunfo da cruz, os reis Fernando e Isabel, sob a influência de Torquemada, ordenaram a expulsão de todos os judeus do território espanhol (31 de março de 1492). De 500 a 600 mil infelizes, sem outra culpa a não ser permanecer fiéis à religião e a crença de seus pais, tomaram o caminho do desterro, sendo este novo êxodo acompanhado de terríveis sofrimentos e toda sorte de privações.
Em Portugal, os judeus levavam, até então, uma vida relativamente calma, mas como Manuel, rei de Portugal, estava em boas relações com Fernando, o católico, do qual iria tornar-se parente, e achando que em seu caráter de monarca absoluto não ficaria mal a política absolutista de seu colega, proibiu aos fugitivos da Espanha a entrada em seu reino. Muitos judeus da Espanha, assim como de Portugal, emigraram para países mais hospitaleiros como a Itália, Turquia, Holanda, etc.
Na Itália, devido talvez à sua política, como também pela persistência das tradições romanas e certa suavidade de costumes desse país, os judeus não sofreram grandes contrariedades nem tiveram que emigrar. Não tardaram a entrar no comércio e a ter negócios com outros países. Fugitivos da Espanha e de Portugal, os judeus tiveram acolhida em vários estados italianos; porém também ali a Inquisição acabou imediatamente com a liberdade que tinham e a maior parte daqueles infelizes teve que tomar novamente o caminho do desterro. Foi em Roma que a existência dos judeus sofreu misérias.
Na França, os judeus viveram de uma maneira diferente. Em sua maioria comerciantes, havia também entre eles tesoureiros fiscais, marítimos e médicos. Sob a dinastia dos Merovíngios começaram as perseguições. A situação melhorou bastante durante o período Carolíngio.
Com os Capetos a vida judaica tornou-se insuportável no norte da França. Apesar disso, surgiu um vulto dentro do judaísmo francês da Idade Média - Rashi (rabi Shlomo Itzhak) - em torno do qual se agruparam muitos discípulos. Nos fins do século XII os judeus foram expulsos da França, mas continuaram vivendo ali, mesmo sofrendo, até o século XIV.
Melhor era sua situação no sul da França, em Provença. Por isso puderam dedicar-se aos estudos e criaram escolas famosas, cultivando a filologia, a medicina, a filosofia e a poesia. Há notícias de judeus na Provença até fins do século XV. Desde então, até pouco antes da época de Napoleão, não existiu na França o problema judeu, porque não havia judeus.

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