quarta-feira, 29 de abril de 2009

BREVE HISTÓRIA DO POVO JUDEU - Quarta parte


Fonte: Boa parte de Isaac S. Algazi e Tradução de Ruth Iusim (Visão Judaica)

Apesar dessas convulsões no organismo social da França, os judeus franceses prosseguiram desenvolvendo sua vida e sua cultura, pois sempre o mundo olhava a França como um guia de liberdade e fraternidade. Mas a França também tinha suas contradições. Voltaire, pensador que se desfez das amarras e dos preconceitos medievais, foi um anti-semita visceral. Já no século passado, por exemplo, figuravam no parlamento seis deputados e três senadores judeus. Nas esferas intelectuais francesas contava-se com várias personalidades proeminentes que gozavam de fama positiva. Esta era a situação francesa na época da invasão alemã em 1940.
Na Itália, na idade moderna, aos judeus ali já residentes foram-se agregando muitos exilados da Espanha, Portugal, Alemanha e França. Os da Espanha estabeleceram-se primeiramente na Itália meridional, donde foram expulsos por Carlos V, no ano de 1541; os da França e da Alemanha instalaram-se na Itália setentrional, no Estado pontifício. Até a época da Reforma, as condições de vida foram boas, porém, com a contra-reforma, os judeus voltaram a ser atacados.
Júlio III proibiu o estudo do Talmude. Os judeus foram encerrados em guetos, excluídos de suas profissões e finalmente, em 1569, expulsos de todas as cidades, menos Roma e Ancona. Em Toscana, Mântua, Ferrara e Veneza a situação era muito melhor. Na primeira destas cidades, por obra dos judeus e anussim imigrados da Espanha, surgiu a comunidade de Liorna.
Estas situações permaneceram quase inalteráveis até a Revolução Francesa. No ano de 1848, começou a emancipação dos judeus em certas localidades e a mesma sorte tiveram os que foram se agregando ao reino da Itália, gozando assim estas comunidades judias de uma das melhores situações na Europa.
Nunca estalou ali um movimento anti-semita e os judeus puderam ocupar posições destacadas tanto no terreno político como no cultural. Muitíssimos foram os professores universitários, os homens de ciência e os políticos. Contudo, também a Itália, desde o ano de 1938, foi envolvida na onda racial anti-semita.
Na Alemanha e na Áustria a época moderna caracteriza-se, no início, por uma grande tranqüilidade para os judeus. Em Hamburgo, no século XVI, os anussim puderam constituir uma comunidade importante; e em fins do século XVIII, também na Alemanha, começou o movimento de emancipação conseguida na Áustria nos anos de 1869-70.
Mas o alemão carrega em si, desde séculos, o ódio ao judeu. Nos tempos medievais ele matava em nome da cruz; depois, com a ascensão do nazismo extermina em nome de um mito racial. O fato é que sempre na Alemanha havia sede de sangue judeu e se procura na história uma causa para derramá-lo. E é por isso que, apesar da emancipação, ainda que o judeu alemão haja dado à sua nova pátria o melhor de si mesmo e sua maior glória com homens como Hertzl, Ehrlich, Einstein e Freud, o alemão não pode eximir-se de seu anti-semitismo. A vida judaica na Alemanha e na Áustria nunca teve o alento liberal que se podia respirar na França, na Itália, na Inglaterra e na América. A emancipação foi praticamente uma palavra, nunca um feito; tudo o que aconteceu na Alemanha desde 1933, e nos países dominados pelos nazis, não foi mais que uma conseqüência atávica do ódio profundamente arraigado nos corações teutônicos.
Na Holanda, depois da expulsão da Espanha, foram-se formando distintas comunidades judaicas, entre as quais celebrizou-se a de Amsterdã. Sua situação ali foi sempre boa, conseguindo-se logo a emancipação. Até a invasão nazista em 1940 continuaram gozando de todos os seus direitos.
Na Inglaterra os judeus foram admitidos novamente por Oliver Cromwell no ano 1657, graças à intervenção de Menasche Ben Israel. Em 1685, um decreto de Jacobo II declarava livre o culto hebreu e o exercício de suas práticas religiosas. Em 1701, edificava-se em Londres a primeira sinagoga. Os judeus que imigraram para a Inglaterra eram em parte sefaradim procedentes de Espanha e Portugal e em parte ashkenazim procedentes da Alemanha. Também aí a emancipação foi bem acolhida e, desde a segunda metade do século XIX, a Inglaterra foi um dos países onde os judeus encontraram melhores condições de vida e desenvolveram suas atividades tanto no terreno político como no cultural. Não se deve olvidar que o insigne ministro inglês Lord Beaconsfield, Benjamim Disraeli, foi judeu, e que o grande químico que salvou a Inglaterra das dificuldades da falta de combustíveis na guerra mundial de 1914-18 foi também judeu, o Dr. Chaim Weizman, que seria mais tarde o primeiro presidente do Estado de Israel.
Na Polônia, nos séculos XVI e XVII, a população judia aumentou notavelmente, chegando a seu máximo esplendor econômico, intelectual e espiritual. O judaísmo sefaradi parecia ter-se reduzido na vida difícil do desterro, mas a luz judaica não está destinada a apagar-se. Na Europa oriental e central, os chamados ashkenazim de Ashkenaz, isto é, Alemanha - recolheram a luz de seus irmãos da Espanha e iniciaram um importante trabalho intelectual.
Mais aferrados à tradição e à religião, seus movimentos foram mais religiosos que culturais. Por causa das perseguições e dos sofrimentos, difundiu-se entre eles a crença da chegada imediata do Messias. Shabetai Tzvi, aproveitando vantagens momentâneas, entusiasmou, para logo desiludir, as povoações judias da Europa central e oriental.
Quando este pensamento coletivo que fez brotar uma esperança salvadora apagou-se, a sonhada época messiânica e o falso messias tiveram seu fim como conseqüência da falta de lógica do pensamento que os gerou. Surgiu então outro movimento místico-religioso: o hassidismo. Foi iniciado por Israel Baal Shem Tov; e a multidão deu-lhe prosseguimento e até nossos dias o hassidismo continua vivendo entre os judeus da Europa Oriental.
Com o século XVII terminou a vida tranqüila dos judeus na Polônia, iniciando-se as perseguições, a matança e a escravidão moral. Sua condição na Polônia e na Rússia, apesar de todas as emancipações, continuou sendo a mais triste de todas; por isso o judeu polonês sempre considerou a emigração como o único meio de salvação. Depois da 1ª Guerra Mundial, a situação foi aparentemente melhorada em virtude da ação de Pilsudsky. Hoje é muito doloroso falar dos judeus da Polônia, dizimados pelos nazistas.
Na Rússia, ao modificar-se em 1742 a lei que proibia aos judeus viver em território russo, começou a imigração para lá e em 1804 obtiveram os judeus algumas concessões, sendo, porém confinados em determinadas regiões. Em 1840 o Conselho de Estado adotou um processo para melhorar a situação judaica, mas em 1843, imputando aos judeus o exercício de contrabando, obrigaram-nos a residir em cidades distantes 60 quilômetros da fronteira. Em 1874 foi promulgada a lei de serviço militar obrigatório; mas o anti-semitismo muito difundido produziu os tristemente célebres progroms (assaltos seguidos de pilhagens, violência e massacres), sendo particularmente grave o de Kishinev. Pela melhora relativa em suas condições diárias de vida, os judeus puderam desenvolver sua vida intelectual. Muitos são os homens de letras judeu-russos que enriqueceram nossa literatura com suas obras. Durante a revolução, os judeus obtiveram todos os direitos e o anti-semitismo foi considerado pelo governo dos sovietes como um grave delito. É claro que a religião foi perseguida, assim como outras religiões, e o judeu russo não sentiu diferença alguma do russo ortodoxo neste sentido; isto significa que três milhões de judeus ficaram totalmente isolados do judaísmo. Houve uma tentativa, fracassada, de Stálin criar uma república soviética judaica, um território autônomo que levou o nome de Birodidjão, no extremo oriente russo, numa terra inóspita entre a China e o mar do Japão.
Na Romênia, a população judia aumentou muito no século XVII devido às imigrações procedentes da Polônia e da Rússia. A emancipação teve ali muito pouco êxito e, na realidade, a Romênia foi a única nação cristã onde a tolerância religiosa não encontrou guarida.
Persiste ali, de certo modo, a influência da dominação russa, que infiltrou superstições no povo. Ainda que a lei proteja todos os cultos, os judeus tinham seus templos e um deles, a sinagoga de Bucareste, seja notável como monumento, a predominância religiosa atual do país é a ortodoxia grega. Durante a 2ª Guerra Mundial os romenos encontram no nazismo um impulso para a perseguição aos judeus.
Na Turquia, os judeus expulsos da Espanha foram bem acolhidos e sempre viveram bem ali. As comunidades fundadas em Constantinopla, Esmera e Salônica floresceram cada vez mais. No século XVII os judeus do império turco tomaram parte no movimento messiânico de Shabetai Tzvi. Em geral, a vida dos judeus turcos foi tranqüila até o início da 2ª Guerra Mundial
Na América, o judaísmo começou com a chegada dos primeiros judeus da Espanha que vieram em companhia de Colombo. Desde então foi aumentando a imigração judaica para as Américas. Em 1665 constituiu-se em Nova Iorque (então Nova Amsterdã) a primeira comunidade israelita, fundada por parte dos judeus que deixaram Recife, no Brasil, onde viviam bem até que os holandeses foram expulsos e a Companhia das Índias Ocidentais perdeu o território que ocupava em Pernambuco . Em 1790 a Constituição dos Estados Unidos estabeleceu a liberdade de religiões e, mais tarde, em princípios do século XIX, a igualdade de direitos. A imigração da Europa Oriental aumentou depois que o Barão Maurício Hirsch (1831-93) fundou a Jewish Colonization Association (JCA) que estabeleceu colônias na Argentina para os perseguidos da Rússia e da Polônia.
Na realidade, pode-se afirmar que a condição dos judeus em toda a América do Norte desde então tem sido a melhor do mundo.
Em novembro de 1947 a Organização das Nações Unidas (ONU) votou pela partilha da Palestina para a criação de dois países, um para os judeus e outro para os árabes palestinos.E em maio de 1948, após dois mil anos de espera pelos judeus, David Ben Gurion proclamou a independência do Estado de Israel.

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